o meu corpo sem elasticidade deita-se na cama improvisada para fumar um cigarro, descansar e escrever. penso que gostaria de ter tido o hábito de fazer exercício e ter como fruto um corpo mais ágil. não. esse não seria o meu corpo e seria estranho ter consciência de outro corpo que não o meu.
os primeiros seis passos são fáceis. não preciso ser elástico. apenas mecânico. penso se será fácil ser fluido depois. porque agora sou, repito, mecânico. para memorizar, faço o 1, paro, faço o 2, paro, faço, paro, faço, paro, sempre assim. e sempre que paro, corrijo, arranjo apoios invisíveis que me permitam ser exacto na reprodução dos ‘frames’. imagino uma parede. imagino uma máquina fotográfica num estúdio. imagino que estou a seduzir alguém.
parei demasiado nos ‘frames’ 7 e 8 porque obrigam-me a ser elástico. hoje não estou preparado para isso. penso se amanhã conseguirei fazer tudo outra vez. ouço na minha cabeça ‘vogue, strike a pose’, ‘1,2,1,2,1,2,1,2’ e ‘do the d.a.n.c.e, 1,2,3,4,5’. repito, tantas vezes quanto repito os seis primeiros passos. acho que já os sei, e penso o quanto eles vão ser corrigidos por ELA. e como ELA me vai dizer que eu penso demasiado.
nestas linhas, disse penso 5 vezes. com esta 6. se considerar também as outras ‘acções mentais’, aumento o número para 12. na minha cabeça mexo-me tanto quanto o meu corpo.
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